sexta-feira, maio 20, 2005

A fábula que irei descrever mais adiante se refere a uma cidade imaginária. Onde a imoralidade corre solta, diria "a la vontê". Esse conto NÃO tem nada a ver com fatos semelhantes que possam ter ocorrido em alguns municípios deste Brasilzão. Caso tenham ocorrido, seria uma mera e infeliz coincidência. Ninguém merece isso!

IMORALIDADE CORRIQUEIRA

Brasil, Bananolândia, Prefeitura Municipal.

Alguns anos atrás...

... o prefeito da cidade, Tertúlio Pio, reunido com sua cúpula questiona:
- Precisamos fazer caixa de campanha.
Seu secretário Djair tem a brilhante idéia de alugar um imóvel para ser a sede da administração e superfaturar o aluguel fazendo assim o "sonhado" caixa de campanha.
Seu Pio novamente pergunta:
- Mas e a atual sede?
- Ora... criamos um fato, excelência, criamos pânico, demonstramos a emergência da mudança, depois é só arrumar o novo Paço, reluz Djair.
- Mande chamar o advogado para sabermos como devemos proceder.
Entra na sala o Dr. Olávio, íntegro advogado da Prefeitura, já questionado pelo Dr. Pio:
- Para locar um imóvel o que é necessário?
- Sem dúvida alguma existe a necessidade de licitação, responde prontamente Dr. Olávio.
- Mas não existe possibilidade de dispensa? Pergunta o prefeito.
- Sim, de acordo com a Lei, pode-se dispensar a licitação quando o imóvel for o único a atender as finalidades precípuas da administração, devendo apenas constar uma prévia avaliação para comparar o valor do aluguel com o de mercado, respondeu o esperto advogado.
- Muito obrigado doutor, está dispensado, retruca o prefeito e ordena ao secretário Djair - chame o Sr. Promissória e toda a cúpula para organizarmos o "esquema".

Entram no gabinete do Sr. Prefeito Municipal de Bananolândia os srs. Djair, secretário, Promissória, também secretário e o Sr. Varanda, conhecido comerciante local que possui um imóvel, muito mal localizado, mas condizente com os anseios eleitorais do atual Prefeito.
Ordena o prefeito Pio:


- Primeiramente, Sr. Djair, abra todas as torneiras da prefeitura durante a noite, chame os bombeiros, consiga um laudo cheio de problemas neste prédio e depois deixe tudo vazar para a imprensa local, assim criaremos a "emergência" para a mudança de imóvel. Depois disso precisaremos conseguir três laudos de imobiliárias avalizando o valor proposto para o aluguel.

- Pode deixar excelência sou muito bem relacionado neste ramo, pois sabes que tenho afinidade com o mercado locatício, brincou Djair.

- Sr. Varanda qual o valor pretendido para seu imóvel? Questiona o prefeito.

- Bem, excelência, visando as melhorias que podem ser feitas no local, caso a prefeitura lá se instale e a valorização que haverá no meu imóvel creio que o valor justo do aluguel gire em torno de R$ 10.000,00 (dez mil reais), responde o Sr. Varanda.

- Pois bem, iremos alugar seu imóvel por R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) e o senhor retorna a diferença para o caixa de campanha, ok? - Pergunta o prefeito.

- Combinado, responde o Sr. Varanda selando o "negócio" entre "amigos".

Tudo acontece muito rápido, a enchente, o pânico, o laudo apresentando problemas gravíssimos nos canos de água, as notícias na imprensa indicam a premente necessidade de mudança de local da sede da administração.
Começa uma pesquisa no mercado local por imóveis para locação, sendo que nenhum deles, apesar de vagos e mais baratos, servem para a prefeitura, claramente para deixar o imóvel do Sr. Varanda como o único capaz de abrigar a sede da administração. Todos os imóveis foram analisados pelo Sr. Promissória que indicou o imóvel pretendido pelo Sr. Pio e seus secretários.
As imobiliárias contatadas pelo experto Djair enviam suas avaliações que dizem, em míseras três linhas, que o aluguel do imóvel do Sr. Varanda é de R$ 150.000,07 (cento e cinqüenta mil reais e sete centavos).


Tudo pronto ocorre à mudança do Paço Municipal, o Sr. Varanda começa a receber os alugueres e a repassar a diferença para o Sr. Pio que por sua vez paga as "comissões" de seus asseclas. A imoralidade é tanta que às vezes o valor é dividido antes mesmo de chegar as mãos do Sr. Varanda, pois como é sabido pode haver "desvios" entre os "companheiros".

- Afinal não se pode confiar em ninguém! Diz Djair e afirma - Sr. Prefeito o "esquema" deu certo, tudo caminha as mil maravilhas e nunca ninguém descobrirá ESSE e outros planos.

E o Prefeito Pio sorrindo e dando tapinhas nas costas do Sr. Djair exclama:
- Legal, tudo muito legal!

E assim a vida segue normalmente na sede da "nova" prefeitura municipal de Bananolândia.


COMENTÁRIO: ufa! Ainda bem que é apenas uma fábula, um conto.